Leia agora a décima segunda entrevista da série onde estamos conversando com profissionais da área de Geoprocessamento que atuam em diferentes regiões do Brasil e do mundo. Estão relatando um pouco sobre sua própria história no mercado, comentando sua visão sobre o cenário das Geotecnologias onde vivem, e algo mais. Nosso entrevistado da vez é Arthur Nanni, um dos responsáveis pela organização da comunidade Quantum GIS Brasil.
Arthur Nanni é pai do Theo e permacultor. Possui graduação em geologia, mestrado em geologia ambiental e doutorado em geociências. Atualmente é professor na UFSC junto ao departamento de geociências. Tem experiência na área de ciências da Terra, com ênfase em permacultura, recursos hídricos e geologia ambiental. Desenvolve atividades na área de geotecnologias com destaque para o software livre QGIS.
1. Há quanto tempo você trabalha com Geotecnologias e como foi seu primeiro contato com esta área?
Trabalho com geotecnologias desde 1995, época da minha graduação em geologia. Sempre gostei de mapas e, espacializar informações em meio digital era o “pulo” naquela época em que as pessoas tinham aversão a computadores, pois eram “pouco confiáveis”.
2. Você fez algum curso na área de Geoprocessamento? (Pode também citar onde, e se possível algumas características do curso)
Tive a oportunidade de cursar a primeira turma de SIG do curso de geologia da UFRGS. Na ocasião aprendemos Geoprocessamento com Idrisi, o qual usei somente nesta disciplina. Em 2005 participei de um minicurso de MapServer básico no II Encontro de Usuários MapServer.
Em síntese não tive a oportunidade de realizar cursos mais aplicados ou avançados. Aprendi Geoprocessamento a partir da faculdade (teoria) e parti para a prática na cara e na coragem.
3. Com quais softwares dos vários segmentos do Geoprocessamento você tem trabalhado, desde o início de sua carreira até hoje (comerciais e livres)?
Aprendi os conceitos em Idrisi, parti para o Spring e depois de 2005 venho trabalhando muito com o QGIS. Volta e meia volto ao Spring para algum procedimento específico. Gosto muito do módulo de edição vetorial deste programa.
4. Qual sua opinião sobre o cenário atual das Geotecnologias no Brasil? Considera que há boas perspectivas para os profissionais?
Creio que as geotecnologias vieram para ficar. Um termômetro disso é o número cada vez menor de mapas impressos. Com o advento do WebGIS houve uma espantosa evolução no compartilhamento da Geoinformação.
No passado para se conseguir uma base cartográfica o sujeito passava por uma maratona desleal e muitas vezes não conseguia o que queria. A popularização das bases cartográficas na web, possibilitaram muitos avanços positivos e creio que o maior deles seja que “finalmente” as informações estão sendo compartilhadas.
5. O que você acha que seja fundamental para que um profissional consiga um bom espaço no mercado de trabalho no campo da Geoinformação?
O profissional tem de estar atento que as empresas não querem um “clicador” de botão. O profissional de Geoprocessamento tem de resolver as demandas do cliente/mercado, ou seja, antes de se adaptar ao software A ou B, tem de entender como irá construir sua base espacial de trabalho, bem como estabelecer como esta base irá se comunicar com as demais ferramentas de gestão da informação.
6. O que diria sobre a potencialidade do uso de softwares livres de Geoprocessamento para os diversos segmentos que fazem uso das Geotecnologias?
Invisto meu tempo em software livre por acreditar que este é um caminho sem volta. As pessoas ainda estão muito “rotuladas” acreditando que somente o “tradicional” molde competitivo de negócios, com uso de licenças, pode ser eficaz. A ideologia do software livre é pautada pela colaboração e não pela competição.
Um bom exemplo do potencial colaborativo é a expansibilidade de ferramentas, que ultrapassam os limites de apenas um software (pacote), é o caso do QGIS com a agregação de ferramentas do GRASS, GPSbabel e SAGA, por intermédio de complementos.
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7. Você é organizador da comunidade QGISBrasil. Poderia comentar um pouco sobre os avanços do software no Brasil?
Ingressei no desenvolvimento do QGIS em 2005. Na ocasião utilizava apenas o Spring e mesmo entendendo o seu funcionamento sempre julguei-o como uma ferramenta de difícil relacionamento com o usuário final. Nesta condição, vi no QGIS o potencial de uma relação mais amigável.
O QGIS era bastante restrito em 2005 (versão 0.6) e foi evoluindo rapidamente na Europa. Em 2009, já como professor, estabeleci a meta de tornar o QGIS mais amigável do que já é, traduzindo a sua interface gráfica e o guia do usuário para o português brasileiro, mas sem sucesso.
Foi somente em 2010 que resolvi “peitar” a criação de um espaço brasileiro para a troca de informações do QGIS. Em abril daquele ano comprei o domínio qgisbrasil.org e apontei-o para um blog do WordPress, facilitando, assim, a organização das informações e a cooperação de inúmeros autores. Na carona veio o grupo de discussões QGISBrasil que atualmente conta com mais de 600 inscritos e apresenta uma intensa troca de informações.
A criação destes espaços de troca de informações alavancou o QGIS no Brasil. Hoje a comunidade QGIS Brasil é referência para todos os países de língua portuguesa.
8. Comente um pouco de como as Geotecnologias estão diretamente envolvidas com seu trabalho atual.
Uso intensamente ferramentas de Geoprocessamento cotidianamente. Aplico-as na gestão de recursos hídricos e no ensino de profissionais de geografia e geologia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
9. Você gostaria de fazer algum comentário adicional sobre o tema de nossa entrevista?
Passados 8 anos a frente do projeto QGIS no Brasil, sinto-me realizado por ter auxiliado na evolução deste software. Esta evolução trouxe para as salas de aula um aplicativo amigável na sua usabilidade, mas sobretudo por possuir uma interface e guia do usuário em português. Isto passou a incluir uma parcela significativa de novos usuários, que se intimidam com ferramentas de Geoprocessamento em inglês, desmistificando que bons programas de SIG têm de ser caros e complexos.
Meu objetivo primordial com o QGIS sempre foi o de ter um SIG livre capaz servir ao ensino e uso profissional. Sinto que este objetivo foi alcançado e aos poucos estou me afastando do projeto.
Atualmente o colega Leônidas Descovi Filho segue na organização do Guia do Usuário e Sidney Goveia me auxilia na tradução dos termos da interface gráfica (GUI).
O uso do QGIS vem crescendo no Brasil, principalmente pela sua adoção em empresas estatais, que por sua vez, contratam consultorias em goeprocessamento, estimulando empresas privadas a seguirem o mesmo rumo.
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Queremos agradecer ao Arthur por nos conceder esta entrevista que certamente agregou valor ao conteúdo de nosso site, em especial nesta série de entrevistas.
O que vocês acharam desta postagem? Já conheciam o trabalho desenvolvido por este relevante profissional da área de Geotecnologias? Deixem seus comentários.