Entrevista: Gilberto Cugler – gvSIG / SIGRB

Entrevista SIGRBLeia agora a vigésima entrevista da série onde estamos conversando com profissionais da área de Geoprocessamento que atuam em diferentes regiões do Brasil e do mundo! Eles estão relatando um pouco sobre sua própria história no mercado, comentando sua visão sobre o cenário das Geotecnologias onde vivem, e algo mais. O entrevistado da vez é Gilberto Cugler, personalidade de destaque na área de Gestão de Bacias Hidrográficas com softwares livres.

Entrevista: Gilberto Cugler – gvSIG / SIGRBGilberto Cugler nasceu em Pariquera-Açu/SP.  É graduado em matemática, pedagogia e pós-graduado em Informática na Educação. Tem atuado nos projetos do Sistema de Informações do Vale do Ribeira e Litoral Sul desde 2004, abrangendo as diversas versões do SIG-RB (Sistema de Informações da Bacia do Ribeira de Iguape e Litoral Sul), fazendo modelagem de bancos de dados, modelos conceituais do SIG e do GEOCAP-Sistema de Informações para Apoio ao Atendimento a Acidentes Automotivos com Cargas Perigosas, o qual a equipe foi premiada pela European Satellite Navigation Competition, fez a introdução dos sistemas de software livre (Linux, Spring, TerraView, gvSIG) para os trabalhos do grupo de apoio ao CBH-RB. Mais recentemente vem atuando nos projetos de Levantamento e Monitoramento de Riscos Naturais na UGRHI-11, apoio aos municípios para Planos Preventivos de Defesa Civil, instrutor nos cursos sobre Sistema de Informação Geográfica.

1. Há quanto tempo você trabalha com Geotecnologias e como foi seu primeiro contato com esta área tão empolgante?

O meu primeiro contato com geotecnologias foi em 1970, quando iniciei o curso de aerofotogrametria. A minha empolgação foi total, nesta época eu tinha 16 anos, saindo do interior de São Paulo para morar numa grande cidade e ter contato com novos conhecimentos, tais como:

Ver imagens estereoscópicas, traçar curvas de nível a partir delas, voar, medir distâncias com equipamentos eletrônicos, programar em Fortran em um IBM 1130 com 16 Kb de memória (é isto mesmo, 16 Kb), com cartão perfurado, programar em uma  calculadora de mesa (HP) com 256 passos de programação para cálculos geodésicos, revelar fotografias aéreas, determinar latitude/longitude por meio de visada em estrelas, projetar uma estrada em todas as suas fases até a locação em campo, interpretar feições em uma fotografia…etc…. etc.

2. Você fez algum curso na área de Geoprocessamento? (Pode também citar onde, e se possível algumas características do curso).

Em 2003, depois de passar um longo período sem atuar em atividades aerofotogramétricas, fui  atualizar-me no INPE, através de 4  cursos sobre o SPRING. Estes cursos me proporcionaram conhecer o mundo fantástico de um SIG. As equipes do INPE-DPI e SPRING são referência em Geoprocessamento.

3. Qual sua visão sobre o cenário atual das Geotecnologias no Brasil? Considera que há boas perspectivas para os profissionais?

Atualmente a Geotecnologia tem aplicação nas mais diversas atividades, econômica, segurança, saúde, comércio, engenharia e etc.. assim podemos dizer que as perspectivas para os profissionais que dominam as técnicas que envolvem a Geotecnologia são e serão cada vez mais promissoras.

4. Como você vê a área de Geotecnologias em seu estado?

O estado de São Paulo, por ser o estado mais rico da federação, em âmbito do governo estadual está deixando muito… e muito a desejar.

5. O que você acha que seja fundamental para que um profissional consiga um bom espaço no mercado de trabalho em Geoinformação?

Estou percebendo, que os profissionais que estão atuando neste mercado de trabalho são meros operadores de softwares, sem saber qual é o algoritmo que está por trás de um aperto de botão, o que pode não ser a melhor escolha. O profissional que tiver domínio não só matemático mas também do fenômeno que este representa, terá maior oportunidade de ser reconhecido.

6. Comente um pouco de como as Geotecnologias estão diretamente envolvidas com seu trabalho atual.

Atualmente participo do grupo SigRb que desenvolve projetos no espaço da Bacia Hidrográfica (já citada), mais precisamente (neste momento) em plano municipal de defesa civil, além de treinamentos para uso do gvSIG.

Sistema de Informações do Ribeira de Iguape e Litoral Sul - SIG-RB - SPRING

7. Com quais softwares para Geoprocessamento você tem trabalhado, desde o início de sua carreira até hoje (comerciais e livres)?

Como disse, entrei em nova fase após o curso do SPRING no INPE, que possibilitou aplicá-lo  inicialmente no SIG da bacia hidrográfica do Ribeira de Iguape e Litoral Sul/SP. A minha vontade sempre foi trabalhar com software livre, porém nesta época o SPRING não era livre.

Então pesquisei um software livre e completo que pudesse substituí-lo; que fosse fácil de aprender, com boa documentação e fácil acesso com os seus desenvolvedores. Escolhi o gvSIG após uma  viagem a Espanha, onde conheci alguns dos colaboradores do software, tais como a Universidade da Corunha e programadores da secretaria de infraestrutura e transporte de Valência/Espanha, Argentina, e Uruguai.

Desde meu  início com geotecnologias optei por não trabalhar com software proprietário.

8. O que você diria sobre as potencialidades do uso de softwares livres para Geoprocessamento?

Ser  livre faz parte da natureza humana, portanto, adotar software livre é uma forma de libertação. Devemos colaborar com esta iniciativa, assim como você (Anderson Medeiros), o Eliazer, Jorge Santos e outros, fazem através de tutoriais, ou aqueles que colaboram com recursos financeiros.

Ao longo da história sempre lutamos com armas por liberdade, atualmente devemos lutar com o conhecimento  para garantir que não soframos um “APAGÃO” intelectual ou escravidão que software proprietário promove e este conhecimento é a  grande potencialidade do uso de programa livre para Geoprocessamento através das 4 liberdades definidas pela Free Software Foundation. Vale a pena relembrar quais são essas liberdades:

  • 1-A liberdade de executar o programa, para qualquer propósito;
  • 2-A liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo para as suas necessidades;
  • 3-A liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa ajudar ao seu próximo;
  • 4-A liberdade de aperfeiçoar o programa, e liberar os seus aperfeiçoamentos, de modo que toda a comunidade se beneficie.

9. Seu nome é frequentemente associado ao Projeto gvSIG. Poderia comentar um pouco para nós sobre a importância deste projeto internacional e sobre seu braço aqui no Brasil?

Eu estou há mais de 6 anos acompanhando o projeto gvSIG e posso dizer  que é um SIG sólido, completo, bem documentado, interface amigável, muitos tutoriais disponíveis, curva rápida de aprendizagem, com uma grande rede de colaboradores e usuários espalhados por vários países latino-americanos e europeus, com um modelo de negócio gerenciado pela associação gvSIG que o diferencia dos demais.

Sistema de Informações do Ribeira de Iguape e Litoral Sul - SIG-RB - gvSIG

A associação conta com coordenadores distribuídos em diversos países. No Brasil temos um grupo de coordenadores cujo objetivo é colaborar com a divulgação e desenvolvimento do gvSIG. A comunidade brasileira conta com apoio técnico de especialistas residentes em vários países, através do modelo de negócio gerenciado pela Associação gvSIG.

10. Você gostaria de fazer algum comentário adicional sobre o tema de nossa entrevista?

Tem algo que me incomoda muito e sempre que tenho oportunidade eu falo sobre isso. Introduzo aqui este assunto para reflexão do leitor:

As universidades públicas brasileiras não perceberam que ao ensinar aos seus alunos o uso de software proprietário estão sendo utilizados como agentes de propaganda, recebendo por isso apenas um desconto no preço da licença, ou gratuitamente o que ainda considero caro pelo retorno financeiro que a  empresa do software recebe em razão da divulgação de seu uso.

Para agravar este cenário, há pouca transferência de conhecimento, contrariando o objetivo maior de uma  instituição de ensino.

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Queremos agradecer ao Gilberto por nos conceder esta entrevista que certamente agregou valor ao conteúdo de nosso site, em especial nesta série de entrevistas.

O que vocês acharam desta postagem? Já conheciam o trabalho desenvolvido por esta relevante profissional da área de Geotecnologias? Deixem seus comentários.

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Anderson Medeiros

Anderson Medeiros

Graduado em Geoprocessamento pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB). É o autor do site https://clickgeo.com.br que publica regularmente, desde 2008, artigos dicas e tutoriais sobre Geotecnologias, suas ferramentas e aplicações.
Em 2017 foi reconhecido como o Profissional do ano no setor de Geotecnologias. Atua na área de Geoprocessamento desde 2005.

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3 respostas

  1. Poderia ser inserida a data nos posts. Ficamos totalmente sem referência temporal sobre os assuntos.

  2. Excelentes comentarios Gilberto.
    Algunos de los puntos expresados y de mayor importancia, están referidos a las comunidades internacionales del proyecto gvSIG, su organización y permanente apoyo a sus colaboradores.
    Otro tema relevante es el de las Universidades, el cómo se han prestado, recibiendo a cambio solo “limosnas”, para preparar futuros profesionales manejadores de “cajas negras”… esto debe y está cambiando en la academia.
    Saludos y un abrazo desde Costa Rica.
    Gustavo.

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Sobre Anderson Medeiros

Ele já foi reconhecido como o Profissional do Ano no Brasil no setor de Geotecnologias. Graduado em Geoprocessamento, trabalha com Geotecnologias desde 2005. Já ministrou dezenas de cursos de Geoprocessamento com Softwares Livres em diversas cidades, além de outros treinamentos na modalidade EaD. Desde 2008 publica conteúdo sobre Geoinformação e suas tecnologias como QGIS, PostGIS, gvSIG, i3Geo, entre outras.

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